11 janeiro 2007

Sim, sou a favor

Eu sou a favor do aborto. Não do aborto indiscriminado. Não do aborto pensado de ânimo leve. Até porque este é um assunto sério que não envolve apenas a vida da criança que está a ser gerada. Envolve sobretudo o físico e o psicológico de uma mulher, que muitas vezes é obrigada a recorrer à interrupção da gravidez, tendo que escolher entre trazer uma criança ao mundo sem quaisquer condições (financeira ou psicológica) para a criar, ou eliminar, de raiz o sofrimento. Um sofrimento que, contudo, nunca passa.
Eu sou a favor do aborto porque Portugal não tem condições para dar apoio a mães solteiras ou jovens mães, ou mesmo a casais mais desfavorecidos que vêm o estado pagar um abono de pouco mais de 20 euros. 20 euros por mês! Os mesmos 20 euros que custa um pacote de fraldas que dá para 15 dias (ou menos).
Eu sou a favor do aborto porque Portugal não tem um plano de adopção em condições. Sim, porque muitas das crianças que nascem indesejadas pelos pais, vão parar às centenas de orfanatos espalhados pelo país e, a maior parte, aí permanece até à idade adulta, sem uma referência de família.
Eu sou a favor do aborto, para que milhares de mulheres deixem de ser humilhadas, para deixem de ficar estéreis após um aborto clandestino, ou que deixem de morrer por ter praticado a interrupção da gravidez em condições sub humanas. Muitas das camas dos nossos hospitais, estão ocupadas por estas mulheres.
Eu sou a favor do aborto para que estas mulheres possam ter um pouco de dignidade, num momento difícil da sua vida. Eu sou a favor do aborto porque detesto hipocrisia.
Mas desengane-se quem pensa que, caso o sim vença o referendo de 11 de Fevereiro (eu quero acreditar que desta é que vai), a coisa muda de imediato. Puro engano. Muita tinta há-de correr. Simplesmente porque, mesmo com a actual lei, onde o aborto é permitido em casos excepcionais, como mal formações no feto ou perigo de vida para a mãe, o aborto é evitado ao máximo, prolongando o sofrimento da mulher até à última instância.
Infelizmente porque a ‘ética’ ainda se sobrepõe à lei e porque as mentalidades ainda continuam a ser as mesmas de há séculos atrás.

5 comentários:

Anónimo disse...

Eu não sou a favor do aborto... mas sou a favor que seja dada liberdade e condicões para o fazerem dentro da lei.

Não gostei do último pensamento. A ética é importantissima. A justica deve ser ética... agora se me disseres que a definicao de ética é relativa e que algumas "éticas" que por ainda andam tresandam... aí já concordo contigo.

Marta disse...

A ética é importantíssima sim, concordo plenamente. Mas quando um médico deixa uma gravidez ir até ao fim, sabendo de antemão que a criança que vai nascer não irá sobreviver, pra mim é mais que hipocrisia... é estupidez.

Maloveci disse...

Essa razão, enquandro na estupidez de todas, mas a violação é o que me faz mais votar pelo sim, pena que ainda não esteja devidamente informado por leitura imparcial. O que se vê nas televisões é sempre a opinião de uma das partes. Por isto os referendos, valem o que valem. Considero-me uma pessoa informada sobre o mundo que me rodeia e ainda sinto este vazio de informação a menos de um mês, mas ... e as outras pessoas?

Konspiry disse...

Eu desta vez voto não. Mas e pelo que já vi os argumentos quer de um lado quer do outro em 90% dos casos são não argumentos. A grande questão para mim é 1º quando começa a vida?
Já agora desta vez voto não, porque acho que não passou tempo suficiente deste o referendo que se fez. E se o resultado do anterior tivesse sido pelo sim? será que se estaria a fazer agora outro referendo? Tendo em conta que o 1º foi feito em 1998 se o sim ganhar desta vez será que em por volta de 2014 vamos ter outro??? Não acho que 7/8 anos seja o tempo suficiente para se fazer outro referendo sobre o mesmo assunto.

Marta disse...

Konspiry, o referendo de há 9 anos não foi vinculativo, porque houve muita abstenção e o número de pessoas que votaram não chegou a metade dos eleitores recenceados. Daí que haja outro referendo. Se a abstenção tivesse sido mais baixa e o Não ganhasse com maioria, concerteza que não tinhamos outro referendo tão cedo. Assim sendo, acho muito bem que voltemos a votar, e 9 anos é tempo mais que suficente para pensarmos no assunto...